Gastronomia

Larvas e gafanhotos: por que não devemos desprezar a ideia de comer insetos

02 • 12 • 2022 às 15:01
Atualizada em 04 • 12 • 2022 às 11:40
Vitor Paiva
Vitor Paiva   Redator Vitor Paiva é jornalista, escritor, pesquisador e músico. Nascido no Rio de Janeiro, é Doutor em Literatura, Cultura e Contemporaneidade pela PUC-Rio. Trabalhou em diversas publicações desde o início dos anos 2000, escrevendo especialmente sobre música, literatura, contracultura e história da arte.

O hábito de comer insetos é chamado de Entomofagia: quando o consumo direto ou de seus produtos derivados é praticado por seres humanos, tal prática é chamada de Antropoentomofagia – e se essa hipótese lhe parece uma péssima e repulsiva ideia, saiba que especialistas cada vez mais sugerem que gafanhotos, minhocas e larvas, entre outros ingredientes com antenas e patas, são os alimentos do futuro. Uma reportagem do jornal The Washington Post investigou tal tendência, para apontar os benefícios e as dificuldades de crescimento e conquista do púbico da indústria dos insetos.

Jovem come uma lagarta cirina em Burkina Faso

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É claro que o consumo de insetos não é nenhuma novidade: trata-se, em verdade, de hábito milenar, ainda mantido por mais de 2 bilhões de pessoas atualmente, em partes da África, da Ásia e da América Latina. O uso dos animais, porém, como matéria-prima para alimentos industrializados em escala global é novo, e vem crescendo em ritmo intenso. A estimativa é que, em 2030, esse se torne um mercado avaliado em 9,6 bilhões de dólares. Alguns produtos, como formigas salgadas e barras de proteína à base de grilo em pó, já fazem sucesso através de vendas online.

Os famosos Chapulines, prato típico do México feito com grilos fritos

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A gastronomia com insetos oferece benefícios consideráveis para nosso corpo, mas principalmente para a saúde do planeta. Os bichinhos são ricos em nutrientes essenciais como proteína, ferro, zinco cálcio, vitaminas e antimicrobianos que melhoram nossa imunidade e ajudam a combater inflamações, infecções e até doenças como câncer. Além disso, a produção de alimentos com insetos produz muito menos gases de efeito estufa e exige uma quantidade menor de terra e água do que as fazendas convencionais – além de produzir uma quantidade muito maior de alimentos na relação com o consumo de rações ou plantas para a produção.

Pupas de bicho-da-seda cozidas e temperadas para serem servidos e comidos na Tailandia

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De acordo com a reportagem, a maior dificuldade de tal indústria não diz respeito ao sabor dos produtos, mas sim ao aspecto visual: da mesma forma que a maioria das pessoas não gosta de comer um prato com carne bovina cuja aparência de fato se assemelhe com uma vaca ou um boi, boa parte do público resiste a pratos em que antenas, patas ou o corpo dos insetos esteja visível e identificável. O mesmo vale para a imagem dos animais nas embalagens: depois, porém, de provar produtos em que os insetos propriamente não estão visíveis, boa parte do público se mostra disposto a comer os bichos propriamente.

Na Alemanha já existem food trucks que vendem insetos como alimentos de rua

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Com as questões ambientais, o combate ao desperdício e à fome se tornando compromissos incontornáveis da indústria alimentícia, a produção de alimentos com insetos tende a crescer. Além de investir em sabor, o marketing terá papel fundamental em tal processo: se, depois de provar, a maioria das pessoas baixa a resistência, a grande dificuldade ainda é superar o asco e a impressão de sujeira que os insetos carregam no imaginário coletivo – para convencer o público a dar a primeira crocante mordida.

Besouro Platycoelia lutescens é preparado com milho tostado como prato típico do Equador

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