Debate

Londres retorna peças roubadas para Nigéria, e Portugal planeja devolver tesouros às ex-colônias

09 • 12 • 2022 às 08:40
Atualizada em 09 • 12 • 2022 às 20:32
Vitor Paiva
Vitor Paiva   Redator Vitor Paiva é jornalista, escritor, pesquisador e músico. Nascido no Rio de Janeiro, é Doutor em Literatura, Cultura e Contemporaneidade pela PUC-Rio. Trabalhou em diversas publicações desde o início dos anos 2000, escrevendo especialmente sobre música, literatura, contracultura e história da arte.

Seis artefatos roubados há 125 anos por soldados britânicos da Cidade do Benin, onde hoje fica o território da Nigéria, foram repatriados recentemente, devolvidos pelo Museu Horniman, de Londres, para seu lugar de origem. Entre as peças encontram-se duas placas de bronze do século 16, saqueadas em 1897 do Palácio Real em Benin, que foi incendiado após todo tesouro ser loteado pelas tropas. A devolução já havia sido anunciada meses atrás, e as seis peças enviadas são o primeiro lote de um total de 72 artefatos que serão retornados à Nigéria pelo museu.

Alguns dos artefatos que já foram devolvidos pelo Museu à Nigéria, parte de um acervo maior

Alguns dos artefatos que já foram devolvidos pelo Museu à Nigéria, parte de um acervo maior

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A cerimônia de repatriação aconteceu recentemente na sede do Museu Horniman, no sul da capital inglesa, onde as peças foram entregues a Abba Tijani, diretor-geral da Comissão Nacional de Museus e Monumentos da Nigéria (NCMM). Segundo Tijani, a esperança é que o gesto inspire os outros museus ingleses que também possuem peças roubadas da Nigéria a igualmente devolverem os artefatos – em especial o Museu Britânico, um dos maiores do mundo, que conserva mais de 900 objetos de origem nigeriana em seu acervo.

Detalhe de uma das máscaras em bronze devolvidas

Detalhe de uma das máscaras em bronze devolvidas

Uma das placas de bronze roubadas do Palácio Real do Benin no final do século 19

Uma das placas de bronze devolvidas, roubadas do Palácio Real do Benin no final do século 19

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Essa é a primeira vez que uma instituição financiada pelo governo britânico concorda em devolver tesouros loteados por tropas britânicas no passado. Duas outras estátuas de Benin, que se encontravam em uma escola da Universidade de Cambridge e na Universidade de Aberdeen, também foram retornadas. Um acordo entre a NCMM e o Horniman definiu que os outros 66 artefatos seguirão emprestados ao museu pelos próximos 12 meses, com novas etapas de repatriação por serem realizadas no período até que todas as peças sejam devolvidas.

À esquerda, o professor Abba Tijani, diretor-geral da NCMM, ao lado de Michael Salter-Church, diretor do Museu Horniman

Professor Abba Tijani, diretor da NCMM, com Michael Salter-Church, diretor do Museu Horniman

Detalhe de outro artefato devolvido: os outros 66 serão retornados nos próximos 12 meses

Detalhe de outro artefato devolvido: mais 66 serão retornados nos próximos 12 meses

Portugal seguirá exemplo

Segundo notícia publicada no final de novembro pela imprensa local, Pedro Adão e Silva, ministro da Cultura de Portugal, anunciou que o país está preparando uma lista de tesouros roubados no passado que serão devolvidos aos seus locais de origem. De acordo com a notícia, o inventário será preparado com a ajuda de acadêmicos, pesquisadores e diretores de museus, a ser formado por “obras de arte, bens culturais, objetos de culto e até restos mortais ou ossadas retiradas das suas comunidades originais”.

O ministro da Cultura de Portugal Pedro Adão e Silva

O ministro da Cultura de Portugal, Pedro Adão e Silva

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De acordo com a matéria, a revisão do passado invasor e colonizador de Portugal é assunto delicado em meio à população e, por isso, segundo o ministro, o processo será realizado de forma discreta. “A forma eficaz para tratar este tema é com reflexão, discrição e alguma reserva (…) A pior forma de tratar disso é criar um debate público polarizado, não contem comigo para isso”, afirmou Adão e Silva. “Posso garantir que esse trabalho será feito”, concluiu.

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