Arte

Nélida Piñon: o adeus a uma das maiores romancistas da literatura brasileira

20 • 12 • 2022 às 08:54 Vitor Paiva
Vitor Paiva   Redator Vitor Paiva é jornalista, escritor, pesquisador e músico. Nascido no Rio de Janeiro, é Doutor em Literatura, Cultura e Contemporaneidade pela PUC-Rio. Trabalhou em diversas publicações desde o início dos anos 2000, escrevendo especialmente sobre música, literatura, contracultura e história da arte.

A literatura brasileira perdeu um de seus maiores nomes no último sábado (17) com o falecimento da escritora carioca Nélida Piñon, aos 85 anos.

Dona de uma pena exuberante e inquieta, que explorava a forma e a linguagem em cada uma de suas 25 obras, Nélida ocupava a cadeira de número 30 da Academia Brasileira de Letras (ABL) desde 1989: sete anos depois, em 1996, ela se tornou a primeira mulher eleita presidenta da ABL, e a primeira mulher no mundo a presidir uma Academia de Letras.

A carioca Nélida Piñon foi um dos maiores nomes da literatura brasileira no século 20

A carioca Nélida Piñon foi um dos maiores nomes da literatura brasileira no século 20

-Lygia Fagundes Telles teria morrido 5 anos mais velha do que o informado

A trajetória de Nélida Piñon

Nascida no Rio de Janeiro em 1937, Nélida Piñon se formou em jornalismo pela PUC Rio, e publicou seu primeiro romance, o experimental “Guia-mapa de Gabriel Arcanjo”, em 1961, retratando um extenso diálogo entre uma mulher e o arcanjo Gabriel.

Sua obra-prima é considerada o livro “A república dos sonhos”, de 1984, no qual se vale de uma narrativa autobiográfica em uma estrutura elaborada e uma prosa cheia de tintas poéticas para contar a história de uma família que se muda da Galícia para o Brasil, e desembarca em pleno Rio de Janeiro da virada do século 19 para o 20.

Nélida em 1971: seu principal livro, A República dos Sonhos, seria publicado em 1984

Nélida em 1971: seu principal livro, A República dos Sonhos, seria publicado em 1984

-Candidatura de Conceição Evaristo à ABL é afirmação da intelectualidade negra

Traduzida em mais de 30 países, Nélida foi vencedora de dezenas de prêmios literários, incluindo, em 2005, dois “Prêmios Jabutis” de Melhor Romance e Livro do ano de Ficção, pelo romance “Vozes do Deserto”, lançado no ano anterior.

Depois, a autora manteve um hiato de cerca de 16 anos sem lançar romances, até “Um Dia Chegarei a Sagres”, publicado em 2020 com o objetivo de ser um “romance total”, através do qual o público compreendesse “a gênese narrativa das Américas, de onde nós procedemos, quem somos nós”.

Recebendo da atriz Fernanda Montenegro a comenda da Ordem Padre José de Anchieta em 2017

Recebendo da atriz Fernanda Montenegro a comenda da Ordem Padre José de Anchieta em 2017

-Prêmio Jabuti: todos os cinco romances finalistas são de autoras mulheres

Verdadeira ourives da linguagem, Nélida se desafiava a lapidar o português para cada novo livro, na busca por uma forma nova e desafiadora para escrever uma nova obra.

“A linguagem é tão poderosa que só através dela poderia dizer tudo o que pensava; é como se houvesse dentro da literatura uma visibilidade e uma invisibilidade, algo que pode e não pode ser tocado, a grande ambiguidade do texto”, afirmou, em entrevista ao jornal O Estado de São Paulo, em 2005.

Com 25 livros, Nëlida se tornou uma das mais celebradas autoras brasileiras no mundo

Com 25 livros, Nélida se tornou uma das mais celebradas autoras brasileiras no mundo

-Abdulrazak Gurnah é o primeiro negro a levar o Nobel de Literatura em 28 anos

Uma das mais reconhecidas autoras brasileiras fora do país, Nélida estava em viagem, e faleceu em Portugal, após uma operação de emergência, depois de passar mal por problemas nas vias biliares.

Antes de falecer, ela entregou à editora o livro “Os Rostos que Tenho”, de ensaios e memórias, que aguarda revisão, e deve chegar às livrarias em 2023.

Publicidade

Canais Especiais Hypeness