Fotografia

O inacreditável caso das fotos que salvaram a vida de um homem sequestrado em 1979

13 • 12 • 2022 às 09:13
Atualizada em 23 • 01 • 2023 às 16:35
Vitor Paiva
Vitor Paiva   Redator Vitor Paiva é jornalista, escritor, pesquisador e músico. Nascido no Rio de Janeiro, é Doutor em Literatura, Cultura e Contemporaneidade pela PUC-Rio. Trabalhou em diversas publicações desde o início dos anos 2000, escrevendo especialmente sobre música, literatura, contracultura e história da arte.

Em uma época em que não existia internet, GPS ou telefones celulares, a história de como uma fotografia salvou a vida de Gary O. Collier parece saída de um roteiro exagerado de aventura e suspense de Hollywood. O fato e as fotos, porém, ocorreram na manhã do dia 5 de maio de 1979 e foram possíveis a partir do esforço do fotógrafo Jerry Ayres e do repórter Mark Winne, que se lançaram em alta velocidade por uma rodovia em busca de quatro dedos saindo pelo vão do porta-malas de um carro velho.

A mais emblemática foto tirada por Ayres, mostrando a mão para fora do porta-mala

A mais emblemática foto tirada por Ayres, mostrando a mão para fora do porta-malas

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O incrível causo começa após chegar à redação do jornal The Birmingham News a notícia de que um veículo modelo Dodge Polara estava, naquele momento, circulando por uma autoestrada na região da cidade de Birmingham, no Estado do Alabama, com uma mão acenando para fora por um pequeno espaço do porta-malas, como que pedindo por ajuda.

Os dois jornalistas não titubearam e, com somente essas pouquíssimas informações, se lançaram à estrada colecionando infrações de trânsito para buscar pela agulha de um único carro no palheiro dos milhares de veículos que passavam pela via de mais de 700 km de extensão naquela manhã.

Ao todo, foram tiradas apenas 10 fotos da cena - que terminou com a prisão dos criminosos

Ao todo, foram tiradas apenas 10 fotos da cena – que terminou com a prisão dos criminosos

Outra foto mostrando a mão de Gary O. Collier, que estava preso no carro havia 14 horas

Outra foto mostrando a mão de Gary O. Collier, que estava preso no carro havia 14 horas

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Com o radio sintonizado na frequência da polícia, a dupla cruzou por horas a fio a autoestrada, até que vislumbram o que parecia impossível: um Dodge Polara, conduzido por uma mulher, com o porta-malas entreaberto, e a ponta de uma mão para fora.

Ayres e Winne avisaram às autoridades pelo rádio, e o fotógrafo conseguiu capturar 10 fotos ao longo de 30 minutos de perseguição: quando os bandidos no veículo perceberam a câmera no carro vizinho, decidiram acelerar na direção de um bairro residencial, onde encontraram um bloqueio policial acionado pelos próprios jornalistas.

Wilburn Fendley, de 49 anos, foi preso mas depois solto por não ter participado dos crimes

Wilburn Fendley, de 49 anos, foi preso, mas depois solto por não ter participado dos crimes

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Após ter o veículo parado, as três pessoas revelaram a presença de um homem – exausto e vivo – no porta-malas. Gary O. Collier havia conhecido a motorista Robin Green, de 24 anos, e Joseph Fendley, de 27, em um bar na noite anterior: a dupla havia lhe sequestrado, agredido e roubado 350 dólares, equivalentes a cerca de 1.400 dólares atuais, e colocado a vítima no carro para decidir onde iriam matá-lo. Aos dois se juntou Wilburn Fendley, tio de Joseph, de 49 anos. No momento em que foram parados, o homem estava aprisionado havia mais de 14 horas.

Após ser libertado do veículo, consta que Gary O. Collier estava bem, e pediu por um cigarro

Após ser libertado do veículo, consta que Gary O. Collier estava bem, e pediu por um cigarro

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Os esforços de Collier com seus dedos foram eficazes na tentativa de capturar a atenção de alguém que pudesse lhe salvar. Após as devidas prisões e a incrível imagem ter circulado pelo mundo, curiosamente outro fato de época, que hoje a internet tornaria praticamente impossível, ocorreu: nada se sabe do paradeiro da maioria dos envolvidos na história – somente sobre os  jornalistas que, depois da fama por terem ajudado a resolver um caso de forma extraordinária, saíram das manchetes para voltar a correr atrás, muitas vezes literalmente, das notícias.

Os jornalistas Jerry Ayres e Mark Winne, à época do incrível feito

Os jornalistas Jerry Ayres e Mark Winne, à época do incrível feito

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© fotos: Jerry Ayres/The Birmingham News/via Xataka

 


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