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Esqueleto de ‘gigante’ que não queria virar peça de museu é retirado de exposição após mais de 200 anos

25 • 01 • 2023 às 11:40
Atualizada em 31 • 01 • 2023 às 11:06
Vitor Paiva
Vitor Paiva   Redator Vitor Paiva é jornalista, escritor, pesquisador e músico. Nascido no Rio de Janeiro, é Doutor em Literatura, Cultura e Contemporaneidade pela PUC-Rio. Trabalhou em diversas publicações desde o início dos anos 2000, escrevendo especialmente sobre música, literatura, contracultura e história da arte.

Em meados do século 18, um homem chamado Charles Byrne fez fama como “O Gigante Irlandês”, por sua altura que ultrapassava 2,3 metros. Byrne sofria de acromegalia, ou excesso de hormônio do crescimento, e enfrentou quadros de alcoolismo e tuberculose. Desde sua morte, com apenas 22 anos, em 1783, seu imenso esqueleto passou a ser exposto ao público em um museu em Londres, mas, por conta de um pedido feito pelo próprio “Gigante” em vida, recentemente foi retirado do acervo.

O esqueleto de Charles Byrne, o "Gigante Irlandês", permaneceu exposto por mais de 2 séculos

O esqueleto de Charles Byrne, o “Gigante Irlandês”, permaneceu exposto por mais de 2 séculos

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Byrne costumava se apresentar para curiosos para ganhar a vida, mas, antes de morrer, teria pedido que seu corpo fosse colocado em um caixão de chumbo e jogado no mar, justamente para que seu esqueleto não se tornasse uma peça de museu. Desconsiderando o pedido, os restos do homem foram vendidos pelos próprios amigos de Byrne ao anatomista John Hunter, por 500 libras: três anos depois, se encontravam expostos como parte do acervo do Museu Hunterian, em Londres.

Ilustração da época mostrando Byrne reunindo curiosos ao redor de sua altura extraordinária

Ilustração da época mostrando Byrne reunindo curiosos ao redor de sua altura extraordinária

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Em 1799, o material foi comprado pelo governo britânico, e passou ao acervo do Colégio Real de Cirurgiões, que mantinha o esqueleto exposto gratuitamente na capital inglesa até recentemente, tendo sido visitado até pela Rainha Elizabeth. Em 2011, porém, um pesquisador da área jurídica chamado Thomas Muinzer assinou um artigo defendendo a retirada da ossada de Byrne da exposição. “O que foi feito não pode ser desfeito, mas pode ser moralmente retificado. Certamente é tempo de respeitar a memória e a reputação de Byrne”, escreveu Muinzer.

Visita da Rainha Elizabeth II ao Museu Hunterian, em Londres, e ao esqueleto de Byrne, em 1962

Visita da Rainha Elizabeth II ao Museu Hunterian, em Londres, e ao esqueleto de Byrne, em 1962

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Quase 240 anos depois da morte do “Gigante”, o museu finalmente confirmou que o esqueleto, uma das peças mais populares do acervo, será retirado de exposição em março, quando o local será reaberto. “O que aconteceu historicamente e o que Hunter fez foi errado”, afirmou Dawn Kemp, diretor do Colégio Real de Cirurgiões, do qual o museu faz parte. “Como corrigir alguns desses equívocos históricos? O primeiro passo é tirar o esqueleto de Byrne da exposição”, confirmou. Por enquanto, o museu irá manter o esqueleto guardado para pesquisa: foi através de análises da ossada que a condição médica que acometia o “Gigante Irlandês” pôde ser diagnosticada.

Uma das peças mais populares do museu, o esqueleto será retirado da exposição em março

Uma das peças mais populares do museu, o esqueleto será retirado da exposição em março

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© fotos 1, 2, 4: Wikimedia Commons

© foto 3: Getty Images


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