Ciência

Moluscos transparentes são descobertos no misterioso oceano profundo do Japão

27 • 01 • 2023 às 10:39
Atualizada em 27 • 01 • 2023 às 10:39
Vitor Paiva
Vitor Paiva   Redator Vitor Paiva é jornalista, escritor, pesquisador e músico. Nascido no Rio de Janeiro, é Doutor em Literatura, Cultura e Contemporaneidade pela PUC-Rio. Trabalhou em diversas publicações desde o início dos anos 2000, escrevendo especialmente sobre música, literatura, contracultura e história da arte.

Três novas espécies de moluscos foram identificadas recentemente na parte leste do arquipélago do Japão, em uma região em que o mar pode alcançar algumas das profundidades mais extremas do planeta, de até 10 mil metros. Os animais descobertos são amêijoas ou lambretas da família dos Thyasiridae, e apresentam uma característica particular de diversos animais que vivem nas misteriosas profundezas do oceano: suas conchas são translúcidas. A descoberta abre uma janela para sabermos mais sobre esses ambientes tão severos.

Detalhe de uma das espécies de molusco transparente encontrado nas profundezas do Japão

Detalhe de uma das espécies de molusco transparente encontrado nas profundezas do Japão

-Fotógrafo registra polvo transparente nas profundezas do oceano

Os moluscos foram encontrados na região da costa de Hokkaido, a segunda maior ilha japonesa e a mais setentrional do país, e a aparência singular da maioria dos animais encontrados em pontos de profundidade extrema dos mares é explicada pela ausência de luz e de fontes de alimento, fazendo com que muitos seres não tenham olhos nem cor – ou se tornem translúcidos. Com tamanho entre 6 e 9 milímetros, considerado grande para animais da família, as lambretas descobertas permitem que todo seu interior seja visto sem que suas conchas sejam abertas.

A falta de luz e de fontes de alimento torna as conchas especialmente finas e, assim, translúcidas

A falta de luz e de fontes de alimento torna as conchas especialmente finas e, assim, translúcidas

Barata gigante encontrada nas profundezas do oceano pode chegar a 50 cm

“No oceano profundo, a assimilação de carbonatos para a formação das conchas requer energia, mas as fontes de alimento são muito restritas, resultando em fontes tão finas que se tornam transparentes ou translúcidas”, esclareceu Graham Oliver, especialista em Thyasiridaes do Museu Nacional de Cardiff, no País de Gales, que trabalhou como consultor na pesquisa.

Essa família de moluscos é ancestral, com fósseis identificados que remontam ao Período Cretáceo, entre 145 e 65 milhões de anos atrás, mas ainda pouco se sabe sobre seus hábitos e a importância para o ecossistema de regiões encontradas.

O interior da espécie Parathyasira fragilis pode ser visto em detalhes sem abrir sua concha

O interior da espécie Parathyasira fragilis pode ser visto em detalhes sem abrir sua concha

-Peixe raro com cabeça transparente é filmado no fundo do mar

Das três espécies recentemente identificadas, duas foram encontradas não mais no mar, mas em coleções de museus, décadas após serem descobertas em expedições. As espécies Axinulus roseus e A. oliveri foram capturadas nos anos 1950, mas só agora foram identificadas corretamente, após serem comparadas com organismos descobertos recentemente – como a a terceira espécie, Parathyasira fragilis. Curiosamente, ainda que saibamos tão pouco sobre os pontos mais profundos do oceano, eles espantosamente representam quase 50% de toda a área terrestre.

O bizarro interior do fígado da espécie A. oliveri, que parece todo preenchido por pequenas pérolas

O bizarro interior do fígado da espécie A. oliveri, que parece todo preenchido por pequenas pérolas

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© fotos: Gennady M. Kamenev/Russian Academy of Sciences


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