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O Carnaval da Bahia não seria viável sem a contribuição cultural dos negros, que respondem por mais de 80% da população de sua capital, Salvador. A presença dos blocos afro transformou uma das maiores festas do mundo ao aliar diversão e conscientização.
Nesse sentido, a presença do Ilê Aiyê, bloco afro mais antigo do brasil, é fundamental na hora de contar a história do Carnaval da Bahia. Quase 50 anos depois de sua estreia na avenida, o Ilê segue rompendo barreiras.
E é justamente do Ilê Aiyê, fundado em 1974 no bairro da Liberdade, em Salvador, que surge mais um fato para a história. O concurso que escolhe a “Deusa do Ébano” tem uma mulher trans como finalista pela primeira vez desde sua criação, há 42 anos.
O nome dela é Laís Fennel, uma jovem soteropolitana do bairro de Canabrava, na periferia da cidade, que se prepara para brilhar na “Noite da Beleza Negra”, que escolherá a Rainha do Ilê.
Laís Fennel, 1ª mulher trans finalista do ‘Deusa do Ébano’
“Quando se trata de Ilê Aiyê, a emoção sempre tomará conta de mim. O Ilê tem essa ligação comigo muito antes da minha transição, me ajudou a ser a mulher que me tornei hoje”, conta Laís Fennel em entrevista ao Hypeness.
Laís tem 26 anos e atua como modelo e esteticista. A jovem possui longa carreira no mundo da moda, inclusive sendo coroada “Miss Subúrbio Gay”, além de ter sido criadora do “Miss Canabrava Gay”.
“Precisava levar um pouco dessa arte linda para a comunidade onde moro”, explica Laís sobre a ideia de colocar na rua o “Miss Canabrava Gay”.
A mulher negra que concorre ao título de “Deusa do Ébano” ressalta que os concursos de beleza de Salvador, mesmo com os obstáculos da discriminação, foram essenciais para o fortalecimento da sua identidade. “Eu fui me reconhecendo até galgar outros caminhos”, conclui.
Laís Fennel é uma mulher trans negra em uma nação ainda permeada pela transfobia. Para quem não sabe, o Brasil é o país que mais mata pessoas transexuais no mundo todo.
Além disso, são poucos ainda os concursos como o Deusa do Ébano, do Ilê Aiyê, que abrem espaço para a diversidade, inclusive de orientação sexual. Ponto para o bloco afro que colocou para todo mundo ouvir a história da cultura negra e sua relação com o continente africano para além dos estereótipos racistas da escravidão.
A ligação de Laís Fennel com o Ilê Aiyê vem desde a infância. A modelo é filha de um dos percussionistas do Bloco Afro Muzenza e, por causa da proximidade, acabou se encantando pelas cores e ritmos do Ilê.
Meu pai, minha mãe e meus antepassados sempre foram ligados ao bloco, e toda minha família tem uma aceitação magnífica comigo. Sempre deixei claro que o Ilê me ajudou em todo o processo até aqui, aos 26 anos.
Foi o Ilê, diz Laís, uma das forças para que ela conseguisse não sucumbir durante o processo de transição. “O bloco representa todo tipo de mulher. E foi baseada nessa lógica de afirmação que resolvi me inscrever para contar ao mundo um pouco de mim.”
Laís Fennel acrescenta: “Quando comecei meu processo de transição, o meu sonho enquanto mulher trans, vítima de uma sociedade perversa, era estar ali contando minha história e podendo me conhecer como o Ilê me enaltece”, destaca.
“O Ilê me a ajudou a ser Laís, preta, trans, alta, magra, com minha genética e história – que a sociedade sempre vai impor o contrário. O Ilê me ajudou a lutar pelos meus direitos e a não baixar a cabeça pelas portas privadas.”
“O Ilê me ajudou a ser Laís, preta, trans, alta, magra”
A escolha da “Deusa do Ébano” coroa a “Noite da Beleza Negra”, criada há 42 anos justamente para exaltar características positivas de mulheres pretas, sempre levando em conta a diversidade.
O evento acontece tradicionalmente perto do início do Carnaval, na sede do Ilê Aiyê, na Senzala do Barro Preto, em Salvador. A vencedora do concurso representa o bloco afro em seus desfiles luxuosos pelas ruas e avenidas da capital baiana.
“O concurso foi uma realização não só para mim, mas também para os meus, para reafirmar que a luta é coletiva, que vale a pena se amar e se aceitar, mesmo quando a sociedade prega o contrário. Esse é o impacto construtivo que o Ilê Aiyê tem até hoje em minha vida.”
A escolha da “Deus do Ébano” acontece no dia 28 de janeiro, véspera do Dia da Visibilidade Trans.
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