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A costura – e, por extensão, a moda – entrou na vida de Gilmara Neves por acaso. Idealizadora da marca Chita Chic Inspire e uma das personagens do documentário “Fio do Afeto”, de Bianca Lenti, que estreou no Festival do Rio, em outubro de 2022, essa capixaba de 53 anos radicada em Marabá (PA) foi gestora de RH por mais de 20 anos em uma empresa da região, onde ela também desenvolvia um trabalho social, antes de criar a própria grife.
Com o fechamento dessa empresa, Gilmara seguiu atuando como ativista social, missão com a qual ela está envolvida desde seus 13 anos de idade, ela conta. Mas, a partir de 2019, sua carreira começou a tomar novos rumos. E Gilmara, que já se dedicava a vários projetos voltados para o empoderamento feminino, viu uma oportunidade de dar mais um passo importante nessa direção.
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Gilmara é idealizadora da marca Chita Chic Inspire
Na época, uma equipe da empresa Vale, que iniciava um projeto de empreendedorismo social comunitário, chegou até Gilmara por meio de uma indicação. “Eles falaram que eu precisava ter um grupo. Eu disse que tinha um grupo de mulheres, com o qual eu fazia um trabalho de empoderamento e combate à violência”, conta Gilmara, em entrevista ao Hypeness. Desse grupo, 28 mulheres aceitaram embarcar no desafio.
Durante dois meses, elas frequentaram o curso de modelagem de negócio oferecido pelo programa e, ao final, precisavam apresentar um projeto de conclusão. “Tínhamos visto numa reportagem uma mulher da Bahia que fazia vestidos de chita para mandar para a África e ficamos encantadas com aquilo”, diz. “Eu e mais duas colegas falamos que podíamos fazer algo parecido, só que nós não sabíamos costurar. Sempre falo que eu não sabia nem colocar a linha na agulha, quanto mais costurar (risos).”
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Mesmo assim, elas pesquisaram sobre o tema e decidiram fazer roupas de chita. Segundo Gilmara, a equipe do programa gostou muito do projeto e, entre os 18 grupos participantes, o dela foi um dos escolhidos para ganhar apoio. E, de repente, Gilmara viu a sala de sua casa tomada por máquinas de costura e tecidos.
Veio então a pandemia, e elas precisavam entender seu lugar como costureiras dentro desse novo e então incerto cenário. ”Entrei na internet e vi como fazer máscaras. Comecei a fazer máscaras de chita. Percebi que Marabá, que é a minha cidade, estava com um pico muito alto de covid, e o pessoal que cuida da limpeza andava sem máscara. Comecei a chamá-los e dar a máscara para eles.”
A notícia se espalhou. “Fizemos a campanha Marabá 100% de máscara.” O grupo doou mais de 100 mil máscaras, contabiliza Gilmara, que foram distribuídas tanto por Marabá quanto pelas cidades vizinhas, para todas as aldeias indígenas da região, para moradores de rua, além de serem enviadas para o Piauí e a cidade de Barretos (SP). “Tenho um grupo de mulheres com quem trabalho também, que são mulheres com câncer. Tem mulheres daqui que fazem tratamento em Barretos. Fizemos também máscaras infantis e mandamos para hospital de lá.”
Gilmara e seu grupo de mulheres fizeram com que a chita entrasse no circuito da moda
Ainda durante o isolamento imposto pela pandemia, Gilmara, que fazia suas pesquisas online, descobriu a escola de costurar de Diana Demarchi, que é colunista da revista “Manequim”. “Entrei numa turma, e o que eu aprendia online eu ensinava para as meninas. Tivemos também uma professora que nos deu aula, mas a Diana nos ajudou muito”, conta. “No ano passado, Diana resolveu fazer o primeiro encontro de alunas (em São Paulo). Ela escolheu cinco alunas para representar a escola e nós fomos uma das escolhidas.” Cada uma apresentou cinco peças de sua autoria, e a própria Gilmara decidiu desfilar representando a Chita Chic Inspire.
Assim, a chita, o tecido, se fortalecia ainda mais como protagonista da grife. “A chita é a cara do Brasil, colorida, alegre, com flores. Depois do tempo em que foi usada para vestir escravizados e negros, ela passou a ser utilizada como adereço de decoração ou para roupas de festa junina. E então ficou esquecida, porque nos apaixonamos pelos tecidos chineses, europeus, sintéticos, e esquecemos que a nossa essência é o algodão, que tem mais a ver com a nossa realidade, que é tropical. A chita permite ter essa leveza. Começamos a fazer com que essa chita entre no circuito da moda não só para decoração nem só para festa junina”, ela explica.
Nascida em Linhares, no Espírito Santo, Gilmara se mudou para o Pará ainda criança. Por isso, se considera mais paraense do que qualquer outra coisa, de “comer açaí e adorar maniçoba”, ela diz, se divertindo. Agora, ela está ansiosa pela estreia do documentário “Fio do Afeto” em sua cidade, Marabá, em março, já que é uma das personagens da produção, que tem ainda a participação especial de Zezé Motta e de Heloisa Buarque de Hollanda.
O filme conta a história de 10 mulheres de várias partes do Brasil que conseguiram transformar a crise do coronavírus em oportunidade de superação pessoal e coletiva através da confecção de máscaras de proteção. “Ainda não acredito que, entre mais de 3 mil mulheres, fui uma das escolhidas para participar do documentário”, comemora Gilmara. “A costura, além de me dar uma outra realidade de vida enquanto profissional, me transformou em modelo e atriz. Foi uma sensação incrível.”
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