‘Coringa’: curiosidades incríveis (e assustadoras) sobre a obra-prima que chega ao Prime Video

Vitor Paiva  • Redator Vitor Paiva é jornalista, escritor, pesquisador e músico. Nascido no Rio de Janeiro, é Doutor em Literatura, Cultura e Contemporaneidade pela PUC-Rio. Trabalhou em diversas publicações desde o início dos anos 2000, escrevendo especialmente sobre música, literatura, contracultura e história da arte.

Nenhum outro vilão da história dos quadrinhos é mais icônico, ameaçador e perturbador que o Coringa. Criado em 1940 por Jerry Robinson, Bill FInger e o desenhista e roteirista Bob Kane – que também criou o próprio Batman –, o Coringa surgiu como um psicopata sádico e dono de um humor doentio, que dedica sua imensa inteligência para o crime.

O personagem já foi retratado diversas vezes na TV e no cinema, mas só ganhou seu próprio filme em 2019. Uma das obras de maior sucesso de público e crítica daquele ano, Coringa chega ao Amazon Prime Video sendo o filme que consagrou Joaquin Phoenix como um dos maiores atores de sua geração – e que confirmou o Coringa como um dos grandes vilões também da história do cinema.

O filme foi escrito e desenvolvido pelo diretor tendo Joaquin Phoenix em mente

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Depois do sucesso da série Batman na TV dos anos 1960, o macabro personagem chegou aos cinemas em 1989, no filme de mesmo nome, interpretado de forma brilhante por ninguém menos que Jack Nicholson.

Na obra, dirigida por Tim Burton, tanto o personagem quanto o próprio universo geral de Gotham City surgem um pouco mais leves do que a tonalidade sombria e densa que viriam a ter em filmes futuros.

Phoenix e o diretor se esforçaram para afastar o personagem de todas as suas versões anteriores

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Depois que Heath Ledger fez história como o Coringa em Batman: O Cavaleiro das Trevas, de 2008 – em interpretação que lhe garantiu um Oscar póstumo, de Melhor Ator Coadjuvante –, a tarefa de Joaquin Phoenix ao protagonizar a primeira película exclusiva do vilão se tornou ainda mais difícil – e interessante.

Em Coringa, passado em 1981, Phoenix vive Arthur Fleck, um comediante e palhaço fracassado, que trabalha para uma agência de talentos, mas que sofre com problemas psíquicos.

Após ser demitido e tratado como um paria social, ele inicia a série de crimes que o transforma no psicopata que batiza o filme – e que inicia um levante social contra a elite de Gotham City, representada principalmente por Thomas Wayne, pai de Bruce Wayne.

O personagem sofre de “riso patológico”, e ri descontroladamente sem motivo aparente

Diante do peso dos nomes que viveram anteriormente o personagem, era fundamental que o vilão de Phoenix não trouxesse nenhuma influência das interpretações de Nicholson e Ledger.

Assim, para traçar o personagem em uma nova versão, o ator buscou inspiração nas mais variadas (e loucas) referências.

Segundo Phoenix, criar a icônica risada foi a parte mais difícil de todo o processo

A icônica risada, por exemplo, foi construída a partir de vídeos e registros de pessoas que sofrem de “riso patológico”, doença que normalmente ocorre como sequela de alguma lesão cerebral, e que leva o paciente a rir ou chorar compulsivamente e sem qualquer motivo – e que, na história, afeta o próprio personagem. A ideia do diretor era a de que seu riso fosse igualmente uma perturbadora expressão de dor.

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Os movimentos corporais e faciais foram criados a partir do estudo de grandes estrelas do cinema mudo, como Ray Bolger e Buster Keaton, e outros clássicos do cinema. O Rei da Comédia, Taxi Driver e Tempos Modernos também inspiraram o processo de criação do ator e do diretor Todd Phillips – que planejou e escreveu o papel desde o início pensando em Phoenix para viver seu Coringa.

A mente doentia e a aparência do personagem também foram inspiradas em John Wayne Gacy, um serial killer da vida real, mais conhecido como “Palhaço Assassino”, que, entre 1972 e 1978, cometeu 33 assassinatos cruéis, e recebeu 21 sentenças de prisão perpétua e 12 penas de morte.

O ator improvisou a dança da emblemáticas cena em uma escadaria no Bronx

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Para interpretar o papel, Phoenix enfrentou uma dieta intensa e perdeu quase 24 quilos, em processo que determinou o ritmo da filmagem. Como forma de proteger a saúde do ator, as cenas não poderiam ser refeitas durante, por exemplo, a edição.

Todo esse esforço, porém, foi recompensado, já que o filme foi um imenso sucesso de crítica e uma das maiores bilheterias do ano, arrecadando mais de 1 bilhão de dólares em todo o mundo. O filme estreou no prestigiado Festival de Veneza, onde foi aplaudido de pé por 8 minutos, e conquistou o Leão de Ouro, prêmio mais importante do festival.

Joaquin Phoenix e o diretor Todd Phillips com o Leão de Ouro conquistado no Festival de Veneza

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Na edição 2020 do Oscar, Coringa recebeu nada menos que 11 indicações, incluindo nas categorias de Melhor Filme e Melhor Diretor, e venceu em Melhor Trilha Sonora e justamente em Melhor Ator.

Assim, Phoenix se tornou a segunda pessoa a vencer o prêmio mais famoso do cinema mundial interpretando seu mais emblemático vilão. É, portanto, esse verdadeiro clássico moderno e um dos melhores filmes contemporâneos que chegou este mês para abrilhantar ainda mais a seleção de filmes do Amazon Prime Video – e para fazer ressoar a mais sombria gargalhada nas telas da plataforma.