Ciência

Idioma ‘perdido’ é decodificado em tábuas de 4 mil anos

03 • 02 • 2023 às 19:04
Atualizada em 06 • 02 • 2023 às 14:09
Vitor Paiva
Vitor Paiva   Redator Vitor Paiva é jornalista, escritor, pesquisador e músico. Nascido no Rio de Janeiro, é Doutor em Literatura, Cultura e Contemporaneidade pela PUC-Rio. Trabalhou em diversas publicações desde o início dos anos 2000, escrevendo especialmente sobre música, literatura, contracultura e história da arte.

Duas tabuletas de argila encontradas há mais de 30 anos no Iraque mas analisadas recentemente permitiram a decodificaç uma língua perdida, falada pelo povo amorreu, também conhecido como amorita. Com quase 4 mil anos, as tábuas trazem frases traduzidas para a língua acadiana, que permite a compreensão por estudiosos contemporâneos, do idioma.

O povo amorreu fundou reino na Mesopotâmia, território atual iraquiano, vindo de Canaã, onde hoje se localiza a região do Estado de Israel e da Faixa de Gaza.

Uma das duas tabuletas de argila encontradas no Iraque que permitiram a tradução do idioma

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Publicada na revista científica Revue d’assyriologie et d’archéologie orientale, a descoberta vem sendo comparada à Pedra de Roseta, famoso artefato encontrado no Egito no final do século 18. A Pedra de Roseta permitiu a decodificação das antigas escritas egípcias de hieróglifos e demóticos, por trazer a mesma mensagem escrita nos dois idiomas e no grego antigo.

A pesquisa recente foi assinada por Manfred Krebernik, professor na Universidade de Jena, na Alemanha, e Andrew R. George, docente da Escola de Estudos Orientais e Africanos da Universidade de Londres.

As tabuletas trazem inscrições diversas, incluindo versos e receitas no idioma amorreu

As tabuletas trazem inscrições diversas, incluindo versos e receitas no idioma amorreu

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As tabuletas iraquianas foram encontradas durante a Guerra Irã-Iraque, ocorrida entre 1980 a 1988, mas acabaram deixando o país em uma coleção para os EUA e, por isso, até recentemente pouco se sabia sobre as peças. “Nosso conhecimento do amorreu era tão lamentável que alguns especialistas duvidaram que tal linguagem existisse”, afirmaram os autores ao site Live Science.

“As tabuletas resolvem essa questão mostrando que a linguagem é articulada de maneira coerente e previsível e totalmente distinta do acadiano”, explicam.

A Pedra de Roseta, que permitiu a decodificação das antigas escritas egípcias

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A dupla de pesquisadores começou o estudo em 2016, e identificou que o antigo idioma é parte da família das línguas semíticas ocidentais: as tabuletas contêm palavras e frases completas, detalhando um vocabulário e uma gramática até então inéditas.

De acordo com a pesquisa, os artefatos trazem uma espécie de guia para falantes arcadianos que desejassem aprender o idioma amorreu, bem como uma lista comparando deuses amorreus com os deuses mesopotâmicos equivalentes, e até passagens sobre o preparo de refeições, sobre sacrifícios, e um trecho que pode trazer até mesmo versos de amor.

Outras tabuletas de argila com inscritos amorreus expostas no Museu do Louvre, em Paris

Outras tabuletas de argila com inscritos amorreus expostas no Museu do Louvre, em Paris

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© foto 1: David I. Owen/divulgação

© foto 2: Rudolph Mayr/Rosen Collection

© fotos 3, 4: Wikimedia Commons


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