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Vaquita: conheça o mamífero mais raro e um dos mais ameaçados do mundo

02 • 02 • 2023 às 11:09
Atualizada em 03 • 02 • 2023 às 12:28
Vitor Paiva
Vitor Paiva   Redator Vitor Paiva é jornalista, escritor, pesquisador e músico. Nascido no Rio de Janeiro, é Doutor em Literatura, Cultura e Contemporaneidade pela PUC-Rio. Trabalhou em diversas publicações desde o início dos anos 2000, escrevendo especialmente sobre música, literatura, contracultura e história da arte.

A face simpática – mostrando quase um sorriso – não traduz a dimensão da ameaça que paira sobre a vaquita, o mais raro mamífero do planeta. Também conhecida como toninha-do-golfo, boto-do-pacífico ou cochito, a espécie de toninha endêmica das águas do norte do Golfo da Califórnia somente foi descoberta em 1958, e em pouco tempo passou a constar na lista de animais criticamente ameaçados de extinção. Hoje, estima-se que existam somente 10 indivíduos vivos – e tudo por conta principalmente da pesca e da venda de um outro animal que traz lucro especial ao mercado chinês.

Habitante do Golfo da Califórnia, a vaquita é considerada o mamífero mais ameaçado do planeta

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Tão assustadora quanto o baixo número de animais restantes é a rapidez com que a extinção se aproximou da espécie, também apontada como o menor mamífero marinho. Consta que, em 1997, havia mais de 560 vaquitas nadando pelas águas do Golfo da Califórnia, corpo de água que separa a península da Baixa Califórnia (México) e único lugar do planeta onde é encontrado. Em 2014, porém, o total já se encontrava abaixo de 100 e, em 2018, cálculos sugeriam que existiam no máximo 22 animais da espécie.

As redes de pesca, principalmente do peixe totoaba, são a principal ameaça às poucas vaquitas restantes

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Esquivo e tímido, o pequeno cetáceo alcança cerca de 1,5 metro, pesando em torno de 55 kg, e costuma se afastar ao notar a aproximação de barcos ou pessoas. A maior ameaça, portanto, sucede por conta da busca incessante por outro animal marinho: visto como afrodisíaco e curativo dentro da medicina tradicional chinesa, o peixe totoaba tem sua pesca de tal forma valorizada que carrega o sombrio apelido de “cocaína do mar”. É nas redes utilizadas para a captura desse peixe semelhante ao robalo, cujo quilo pode alcançar até 8 mil dólares na China, que as vaquitas costumam ficar presas e sufocar até a morte.

Estimativas calculam que restam apenas 10 indivíduos vivos da espécie: outros cálculos sugerem apenas 6

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O impacto da pesca de totoaba sobre as vaquitas se agrava com a poluição sobre seu hábitat restrito, e também por um fator peculiar do processo reprodutivo do animal e de outros cetáceos: o mais raro mamífero do planeta se reproduz somente a cada dois anos, com uma gestação de 10 a 11 meses de duração, dando à luz a um animal por vez. Os esforços para criação da espécie em cativeiro até hoje fracassaram, bem como a tentativa de proteção do animal: o uso da rede de pesca da “cocaína do mar” é oficialmente proibido desde 1992 no país, mas diversas instituições denunciam que a prática segue ocorrendo clandestinamente.

Além das redes, poluição no habitat natural e particularidades do animal aprofundam a ameaça

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Um Comité Internacional para a Recuperação da Vaquita tornou uma área de refúgio para o animal, onde a pesca e até mesmo a passagem de barcos é proibida. De acordo com organizações ambientais, porém, os esforços podem ser tardios e insuficientes: para salvar o animal da extinção completa, é fundamental, segundo especialistas, um compromisso radical e profundo por parte das autoridades mexicanas, mas também dos EUA e principalmente da China, para controlar a pesca e o comércio da totoaba.

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© foto 1: Marcelo Otero/Greenpeace

© foto 2: Flip Nicklin/Minden Pictures

© fotos 3, 4: Wikimedia Commons


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